O termo Cripface surgiu recentemente nos Estados Unidos e deriva das palavras, em inglês: crippled (sinônimo de disable, que significa deficiência) e face (rosto). A escolha desse termo se inspirou em outra prática chamada Blackface, onde pessoas brancas pintavam seus corpos e rostos de preto para representar pessoas pretas em filmes, peças de teatro, festas à fantasia e performances no geral, de forma que pessoas pretas fossem ofendidas e ridicularizadas.
O significado de Cripface é semelhante, pois remete à pratica onde atores sem deficiência representam personagens com deficiência. Essa prática é problemática, pois está ligada ao Capacitismo, visto que ao não contratar pessoas com deficiência (PCD’s) para trabalhar nas produções audiovisuais, a ideia de que essas pessoas não são capacitadas para tal, é reforçada.
O fato de não incluir PCD’s na narrativa de uma produção audiovisual, faz com que a realidade dessas pessoas seja totalmente distorcida e voltada para o Capacitismo, onde essas pessoas são vistas como infelizes, exemplos de superação, entre outros estereótipos. Além disso, ao contratar pessoas sem deficiência para interpretar esses papéis, as empresas estão tirando a oportunidade de PCD’s, ainda mais se levarmos em conta que o mercado de trabalho, no geral, já é muito excludente.
Uma justificativa muito usada é de que o personagem não tem uma deficiência no início da história, de forma que por um acidente ele se tornará uma PCD. No entanto, hoje em dia existem muitas possibilidades e tecnologias que podem ser usadas, como um dublê ou computação gráfica (CGI).
(alerta de spoiler) Dois exemplos legais para demonstrar isso são os filmes “Como Eu Era Antes de Você” e “Fuja”. O primeiro filme conta a história de William, um empresário que sofreu um acidente e ficou tetraplégico, porém além de ser um personagem interpretado por um ator sem deficiência, no final do filme o personagem não se adapta à nova realidade e opta pelo suicídio, mostrando a PCD como infeliz. Já o segundo filme, é um suspense que retrata a história de uma mãe e uma filha (PCD) interpretada por uma atriz PCD. Ao fim da história, a personagem recupera alguns movimentos e até chega a andar, porém isso foi demonstrado a partir de computação gráfica, sem afetar a representatividade.
É importante ressaltar que a função do cinema na nossa vida, vai muito além de entretenimento. É a partir dele que nos reconhecemos dentro da sociedade e conhecemos perspectivas de mundo diferentes da nossa, o Cripface faz com que as pessoas fiquem cada vez mais, dentro de uma bolha, visto que raramente uma pessoa com deficiência é retratada sem que a deficiência seja o foco da história, como um vilão, um personagem coadjuvante, entre outros.
Por fim é importante que as produções com participações de PCD’s tenham o engajamento e audiência que deveriam, mais do que produções onde o Cripface está presente. Você pode fazer isso fazendo uma pesquisa rápida sobre o elenco de determinado filme.
Na próxima semana vamos postar um conteúdo indicando produções audiovisuais com representatividade PCD (de verdade!), fiquem ligados!
Texto por Iris Giuliani
.
Descrição da imagem: Ilustração com fundo azul claro. Nos cantos superior esquerdo e inferior direito, estão duas ilustrações de um filme de câmera. Nos cantos superior direito e inferior esquerdo, estão duas ilustrações de um saquinho com pipoca. No centro da ilustração, há um desenho de um computador, onde está escrito na cor vermelha: “Cripface – você conhece?”. Fim da descrição.
.
#vivairis #sejaadiferença #cripface #feitocomamor