No ano de 2006 em Curitiba-PR, com 1 ano e 8 meses de idade, descobrimos o diagnóstico de Atrofia Muscular Espinhal em nossa filha Iris, uma notícia devastadora vinda através de uma neurologista de que ela teria apenas mais 1 ano de vida nos deixou sem chão. A partir daí, decidimos não aceitar essa condenação e viver um dia de cada vez, se fosse para ela viver mais 1 ano, que ela vivesse intensamente cada segundo então. Indignados com a frieza da médica, começamos a pesquisar tudo sobre aquela doença terrível e nos informar melhor e conhecer outras famílias com o mesmo diagnóstico. Foi ai que descobrimos que nossa filha precisaria de fisioterapia para resto da vida. A princípio um grande baque, mas de pouco em pouco fomos nos adaptando e aceitando melhor a cada dia. E assim começamos o contato diário com as clinicas de fisioterapia, aliás, não só nas clínicas, em casa também toda e qualquer atividade que fazíamos com ela, dávamos um jeito dela se exercitar de alguma maneira. Desde a hora de acordar até o momento de dormir, procurávamos sempre alguma forma de fazer ela se movimentar de alguma maneira. Tínhamos que ser criativos, porque a qualquer hora aquelas atividades todas seriam cansativas. Devido a essa necessidade extrema de inventarmos coisas novas, acabamos sendo praticamente obrigados a mergulhar profundamente na fisioterapia.
Com o passar do tempo as clinicas de fisioterapias passaram a ser a nossa segunda casa, frequentávamos mais tempo as clínicas do que a nossa própria casa. Sempre fomos muito exigentes e prestativos em relação a tudo que era trabalhado com ela em relação a fisioterapia até que chegou um ponto que a fisioterapia convencional já não nos contentava mais. Um certo dia, após participarmos do programa do Luciano Huck, uma clínica de fisioterapia intensiva de Curitiba-PR chamada Centro de Pesquisa Vitória entrou em contato com a gente e nos fez um convite irrecusável, proporcionar um tratamento durante 30 dias de 5 horas diárias de fisioterapia intensiva chamado Pediasuit. Até então não conhecíamos nada sobre terapias intensivas, mas é lógico que aceitamos o convite na mesma hora, estávamos dispostos a fazer o que fosse preciso, custasse o que custar, para vermos nossa filha melhor.
Juntamos todas nossas coisas e sem pensar muito nas consequências pegamos a estrada, mal imaginávamos que começaria ali uma nova jornada na nossa vida. Foi maravilhoso vê-la se divertindo tanto durante a fisioterapia como ela jamais havia se divertido, novos estímulos, novas atividades, novos ganhos e novas perspectivas de vida, foi mágico aquele mês, ficamos simplesmente apaixonados por tudo aquilo que estávamos vivenciando. Voltamos para casa com os pensamentos a mil por hora, decidimos que a partir daquele momento nunca mais faríamos fisioterapia convencional com ela, a fisioterapia intensiva era o que havia de melhor para nossa filha então decidimos que esse seria o caminho a trilhar. Mas acabamos nos esbarrando em um grande problema, Uberlândia a cidade onde morávamos, não contava com nenhuma clínica com esse tipo de terapia intensiva ainda, não tínhamos condição financeira de irmos todo mês para Curitiba, totalmente inviável. Mesmo com as dificuldades extremas ainda assim conseguimos ir durante mais alguns anos, fazendo campanhas, rifas e até mesmo com a ajuda do restante da família. Até chegar ao ponto que realmente ficou impossível viver dessa forma, vivíamos na casa dos outros e estava atrapalhando os estudos da Ìris também.
Eu e minha esposa nos reunimos e conversamos muito a respeito de toda nossa situação de vida e chegamos à conclusão que o melhor a ser feito naquele momento seria trazer o tratamento para Uberlândia e abrir a nossa própria clínica de fisioterapia e claro nada mais justo do que levar o nome dela , nascia assim o Viva Iris Terapias Neuromotoras Intensivas LTDA. Ficamos super empolgados, fizemos um pé de meia e investimos tudo que tínhamos para montarmos uma estrutura de ponta e oferecer um tratamento de excelência para a Iris , mas dessa vez seria diferente, era a nossa clínica, com o nosso olhar e toda aquela bagagem por trás, colocaríamos o sangue naquilo, além de direcionar da forma como quiséssemos e estimula-la de todas as maneiras possíveis e o melhor de tudo, a Iris estaria sempre por perto, literalmente unimos o útil ao agradável.
O tempo passou e conseguimos nos manter firme e fortes, focados em oferecer um tratamento de fisioterapia que Uberlândia jamais havia visto até então, e mais, atualmente além da Iris atendemos mais 8 crianças. Resumindo um pouco o Viva Iris está sendo um grande sonho realizado, mas como comentei lá no começo, nunca nos contentamos com pouco, queremos ir além do que estamos fazendo, como a clínica é particular, os custos são muito altos e infelizmente temos um limite de crianças que conseguimos atender, mas o sonho ainda apenas começou.
Está nascendo agora o Instituto Viva Iris, um lugar mágico que queremos construir para acolher muitas outras crianças que não tem condição nenhuma de ter um tratamento de excelência como a Iris e todas as outras crianças do Viva Iris está tendo a oportunidade. Um lugar onde as crianças não só especiais tem acesso ao esporte, a arte e principalmente tenham a experiência de conviver e aceitar uns aos outros do jeito como eles são, independente de religião, cor, opção sexual ou condição financeira. O Instituto nasce para levantar a bandeira da acessibilidade e proporcionar experiências de vida como jamais essas crianças vivenciaram.
Desde que descobrimos o diagnóstico da Iris, o meu maior intuito era fazer ela sorrir de qualquer maneira, e de certa forma ,queremos isso para o Instituto também, nada mais do que ver as crianças sorrindo, se divertindo e ajudando uns aos outros, ensinar e aprender com eles, tentar mostrar um caminho que até então estava sendo difícil ser visualizado devido as barreiras que o sistema nos impõe devido a uma dificuldade financeira ou até mesmo física, devido à falta de acessibilidade , falta de carinho e de respeito .
Att
Ricardo Oliveira Assis